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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O fascinante elo de confiança dos bebês


É engraçado como um novo mundo se mostra quando nos tornamos pais. Hoje percebo coisas que nunca tinha notado. Viajamos com nosso bebê de 2,5 meses e ele foi com um tênis lindo; 14 dias depois, quando nos preparávamos para voltar, vi que o mesmo par nem entrava nos pezinhos fofos que vieram. Só quem tem bebês sabe o quanto são caros e quase descartáveis os sapatos nesta época da vida. À mesa sempre digo para minha filha de dois anos: “Não pode pegar a faca, faz dodói”. Fomos a uma fazenda e ela conheceu uma vaca em pessoa. No jantar, mais uma vez soei meu mantra: “cuidado! A faca faz dodói.” Ouvi como reposta; “Não. A vaca faz Múuuu”. Só quem tem bebês vê como é impressionante a quantidade de informações que eles precisam absorver e quão complexa é a fonética.
Quando passeamos com nossos bebês vemos que os olhares mais atentos vêm justamente de outros pequenos; os nossos também se inclinam para olhar dentro dos carrinhos, dos cangurus, só para cruzarem os olhos com outros da sua “espécie”. Eles sorriem espontaneamente uns para os outros, mesmo que nunca tenham se visto antes, aparentam ter certeza de que não estão sozinhos, que alguém sabe como se sentem. Parece que há um magnetismo entre eles. Uma espécie de elo de sinceridade e empatia que nenhum adulto é capaz de participar.
Sempre ouço as pessoas dizerem, seja com desprezo ou inveja, como nós médicos somos corporativos. Mas forte mesmo é o corporativismo que existe entre os bebês.  Em três situações pude comprovar isso:
Quando tinha um ano e dois meses minha filha já tinha ouvido muitos Nãos, mas parecia não saber que essa palavra mágica podia ser emitida por suas próprias cordas vocais. Ela entendia claramente o sentido, mas nunca tinha usado. Na piscina de um hotel ele conheceu uma menininha de três anos que distribuía o advérbio aos quatro ventos. Desde aquele exato momento Não é a palavra preferida dela. Impressionantemente se encaixa em tudo:
- Dá a mão aqui.
- Não!
- Vem, vamos tomar banho.
- Não!
- Vai no colo do papai.
- Não!
Carioca da gema, com uma mãe que ama praia, minha menina odiava que qualquer parte do seu corpo tocasse naquela substancia assustadora e aderente que é a areia. Era tentar colocá-la de pé que ela encolhia as pernas, escalava o pai... se insistíssemos, o escândalo se estabelecia. Tentamos muitas vezes. Mas um belo dia, enquanto caminhávamos naquela areia sedosa e branquinha da praia do Forte em Cabo Frio – com ela no colo, claro – encontramos um rapaz destemido, na segurança dos seus um ano e quatro meses de experiência, um mês a mais do que ela, correndo na areia. Em minutos ele conseguiu o que tentamos por meses: ela caminhou desajeitada, tocou com seus dedinhos com todo cuidado e logo estava mais à vontade com aquele mundo de areia do que um tatuí, achando que fazer castelo na praia é a coisa mais legal que existe (e sabe que é mesmo?!).

Confesso que achava que criança que comia mal era porque seus pais não souberam ensinar (galguei mais um degrau na evolução de meu espírito: a maternidade traz dúvidas, desafios e dificuldades inimagináveis. Vivenciar isso me tornou mais tolerante). Sempre ofereci alimentos saudáveis, mas pouco antes de completar dois anos ela ficou muito seletiva para comer. Queria sempre as mesmas coisas e não experimentava alimentos novos. A maior dificuldade era comer carne. Não havia como convencê-la. Nesta semana ela reencontrou seu primo de três anos; Em um churrasco ele lhe ofereceu um pedaço de carne que comia. Ela, que tem evidente preferência por alimentos claros, aceitou aquela fatia fibrosa e marrom de bom grado, provou e adorou. Desde então é apaixonada por bife.
E o que dizer do elo de confiança entre irmãos bebês? Meu filho de três meses sorri com muito mais vontade quando a irmã fala com ele do que para qualquer outra pessoa; vejo que entre eles já existe uma cumplicidade e cooperação que supera de longe os ciúmes da minha filha.



Uma grande amiga, mãe de uma menininha linda um ano e meio mais nova que a minha, costuma dizer que eu me divirto em “enganar” as ingênuas mulheres sem filhos, fazendo parecer que ter um bebê não é algo tão trabalhoso. Ela alega ter sido absolutamente iludida, até descobrir a verdade por conta própria. Bom, seguindo a mesma linha, a ela dedico a minha seguinte conclusão: ter outro filho enquanto o primeiro ainda é bebê não significa ter duas vezes mais trabalho. Estimo que seja algo em torno de 50% a mais de esforço. Seja porque a experiência tem valor inestimável, rompendo amarras de medo e insegurança da maternidade, e porque tenho a nítida percepção que o primeiro filho atua como um tutor do segundo. Os hábitos que nos esforçamos para passar para ele serão passados para ao mais novo de forma mais natural, porque desta vez teremos ao nosso lado um grande aliado de reputação inquestionável: o bebê irmão mais velho. O grande validador. Que vai agir como multiplicador da educação e valores que recebe de nós.
Observando tudo isso, atualmente noto claramente que existe uma espécie de senso comum, um código de ética entre os bebês. Se um bebê diz que é bom, provavelmente é. Eles parecem saber que suas complexas conexões neuronais que os levarão a dizer que caviar é uma delícia e rir da piada sem graça de um ilustre convidado ainda não estão formadas. O fato de ser bebê é atestado de que aquele ser é confiável. Um bebê não mentiria para o outro.
Concluí que o silencioso selo de garantia fornecido por um membro deste seleto grupo de seres confiáveis tem mais peso do que o todo o bem intencionado esforço de nós pais dedicados. Ser bebê é  pré-requisito indispensável ao elo.

Por Carla Torres



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2 comentários:

  1. Que lindo amiga. Só quem tem um bebê em casa pode compreender cada palavra escrita aqui. Realmente este mundo de seres tão pequeninos nos surpreende a cada dia e foi convivendo com este mundo tão inocente que desenvolvi dentro de mim um desejo enorme de orar todos os dias. Essa é a minha oração: Senhor dá me um coração puro como o da minha bebê. Bj amiga linda e inesquecível! !!!

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  2. Obrigada, Raquel. Saudades de vc. Quero que nossos bebês se conheçam. Bjs.

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